sexta-feira, 16 de abril de 2010

Tenho só 26 anos e sofro com a Neuralgia Trigeminal



Patrícia Natazza, Carnaubais, Interior do estado do Rio Grande do Norte



A minha primeira crise foi dia 14 de fevereiro de 2004. Lembro bem o que aconteceu... Exatamente no momento em que eu penteava meu cabelo, fui tomada por uma dor indescritível no meu maxilar direito, que inocentemente, eu imaginava ser uma simples dor de dente.

Logo no dia seguinte fui ao meu dentista que descartou a possibilidade de uma dor dentária, pois como tinha mordida cruzada, ele diagnosticou como dor muscular. Eu extraí todos os meus dentes dos sisos e coloquei um aparelho ortodôntico. Fiz um péssimo negócio... O aparelho aumentou muito minhas dores, mas o dentista sempre dizia que não era do aparelho.

Como eu sou do interior do Rio Grande do Norte, viajei até a capital em busca de solução. E lá, orientada por um médico especialista em dor, eu fiz uma série de exames na face e um tratamento de acupuntura.

Como as dores eram muito intensas e eu só fazia chorar, meu pai me acompanhou em uma consulta com o dentista e praticamente o obrigou a retirar o aparelho. Consegui algum alívio, mas, com o passar do tempo, a dor voltou. E cada vez que isso acontecia, eu ia ao Pronto Socorro, alegando dor de dente, e tomava uma solução de “Dolantina” e a dor realmente passava.

Dois meses após a primeira crise de dor, eu prestei o vestibular e novamente fui acometida por uma nova crise. No Hospital, a médica de plantão encaminhou meu caso para o Neurologista. Fiz vários exames, todos possíveis e imagináveis, porém não obtive nenhuma resposta. Fui medicada com “Gabapentina” e a dor cessou por oito meses seguidos. Após esse período, nova crise que durou cerca de dois meses... Iniciei o tratamento com “Tegretol”.

Fui à busca de solução em vários médicos neurologistas e a opinião deles sempre me deixava péssima: ou diziam que não tinha cura ou que não acreditavam ser Neuralgia Trigeminal e sim um problema psicológico.

No final de 2005, resolvi ir a Fortaleza, Ceará, para novas consultas e tentativas e lá o Neurologista sugeriu fazer a Descompressão. Fiquei um ano sem sentir dor, mas logo começaram alguns incômodos na face como formigamento e dor.

Em novas consultas, os médicos diziam que não era possível sentir dores porque havia feito a descompressão e não mais prescreviam os medicamentos... Muitas vezes eu tinha que ir a vários hospitais para conseguir ser medicada e como eu moro numa cidade pequena os médicos trocavam informações dizendo que o que eu tinha era “piti”.
Em setembro de 2008 eu tive uma crise aguda de dor em meu trabalho e fui direto para um hospital de grande porte aqui no Rio Grande do Norte. No Pronto Socorro havia um cardiologista que tentou todos os analgésicos do mundo. Como nada adiantou, resolveu chamar um neurologista que solicitou uma ressonância magnética.

A ressonância mostrou que a haste usada para descomprimir o nervo trigêmeo estava mal posicionada e que eu teria que fazer outra cirurgia para removê-la. A UNIMED negou a autorização para a cirurgia e meus pais foram conversar com os médicos para fazer particular.

E fomos informados que dessa vez a cirurgia era de grande risco, pois passavam muitos vasos sanguíneos e na tentativa de remover a haste poderia haver uma dilatação. Não pude realizar a segunda tentativa. Passei mais de ano sem sentir nada, depois tive uma crise que levou uns três meses para passar por completa.

A grande lição disso tudo:

O SUS não tá preparado para atender portadores de NT, os planos de saúde sempre falham quando mais precisamos, os médicos de urgência dos hospitais são despreparados, pois desconhecem a doença e existe um grande preconceito com os portadores... Nos olham como loucos, dores psicológicas, “pitis” e até viciados em analgésicos.

É muito triste, eu ver a minha família desconfiar de mim. Muitas vezes, quando chegava aos hospitais, os médicos tentavam convencer meus pais de que eu não tinha nada, até que foi provada na ressonância a má colocação da haste.

Outra coisa que me revolta: quando eles falam na possibilidade de vício em analgésico, como eu posso ser viciada se eu passo mais de ano sem tomar esses remédios para dor?

Minha cabeça tem muitas perguntas e quase nenhuma resposta...